[CAPA Folha] Exames oftalmológicos devem ser realizados desde a infância

Tratamento precoce é fundamental para resolver ou minimizar problemas de visão nas crianças

Vitor Ogawa

Vitor Ogawa - O oftalmologista Eduardo Vidal examina Micaele, de um ano e oito meses de idade; menina foi encaminhada pela pediatra, que notou algo diferente na visão

O oftalmologista Eduardo Vidal examina Micaele, de um ano e oito meses de idade; menina foi encaminhada pela pediatra, que notou algo diferente na visão

O tratamento precoce é fundamental para todas as doenças da visão, em especial quando o assunto é cegueira infantil. “Uma catarata congênita deve ser operada da maneira mais rápida possível, porque se passar muito tempo para realizar a cirurgia a criança perde o período de desenvolvimento sensorial. Mesmo se realizar a cirurgia posteriormente, o resultado nunca será da mesma forma que se ela tivesse feito o procedimento precocemente”, reforça o oftalmologista Odair Lopes, de Londrina.

O profissional ressalta que a mesma indicação vale para o glaucoma congênito. “O glaucoma destrói estruturas nobres do olho. Se a cirurgia for realizada precocemente o resultado poderá ser a diferença entre a criança ser cega ou não. O tratamento deve ser feito precocemente mesmo nas coisas mais singelas, como estrabismo ou ambliopia. É de fundamental importância que os pais fiquem atentos e realizem exames periódicos”, explica o médico do Hoftalon (Hospital de Olhos de Londrina).

É o que fez a dona de casa Daniele dos Santos Machado, 31, mãe de Micaele Rivera Machado, de um ano e oito meses de idade. Ela levou a filha na UBS (Unidade Básica de Saúde) do conjunto Ernani Moura Lima (zona leste) e a médica que a examinou emitiu uma guia para que a criança consultasse um especialista, por suspeitar de estrabismo. “Ela tinha feito o teste do olhinho, mas não deu nenhuma alteração. Mas a pediatra notou algo diferente e pediu encaminhamento para tirar a dúvida.”

Munido com um telefone celular para distraí-la com um vídeo musical infantil, o oftalmologista Eduardo Vidal, também do Hoftalon, pôde realizar os testes clínicos em Micaele. “Não tem estrabismo. Ela possui epicanto, que é uma anomalia na inserção da pálpebra superior. O olho acaba ficando mais abaixo da pálpebra e dá a impressão que a pessoa é mais estrábica”, tranquiliza.

TESTE DO OLHINHO
O oftalmologista Odair Lopes afirmou que o teste do olhinho é bastante eficiente na detecção de alguns problemas. “Não é um check-up oftalmológico. E o fato de o teste do olhinho ser normal não quer dizer que o olho é normal. Significa a ausência de um determinado número de alterações”, detalha. Se o teste do olhinho não acusar problemas, os pais podem aguardar, mas o médico reforçou que a criança deve ser examinada se surgir alguma alteração perceptível de fotofobia, de lacrimejamento, olhos vermelhos, falta de fixação no olhar. “Caso o pediatra ou os pais não percebam nenhuma alteração, a criança pode esperar para fazer esse exame de ano em ano”, aponta.

Lopes explica que se a criança fizer exames anuais o oftalmologista pode solicitar a periodicidade conforme a evolução do quadro clínico. “Lembrando que crianças prematuras, mesmo com o teste do olhinho tendo um resultado normal, devem ser examinadas por um oftalmologista amiúde, porque elas estão sujeitas a uma alteração chamada retinopatia da prematuridade, que é uma enfermidade grave que pode levar à cegueira se não for bem acompanhada”, destaca.

CEGUEIRA 
Segundo Lopes, existe a cegueira total, denominada amaurose, que é a ausência plena de visão; a cegueira parcial, que é a percepção de vultos, com percepção luminosa abaixo de 10%; e a baixa visão, com visão abaixo de 50% mesmo depois da melhor correção e exauridos todos os tratamentos. “Especificamente para criança existe a cegueira evitável e a inevitável. Dentro desse aspecto de cegueira que pode ser prevenida, nos países em desenvolvimento as principais causas são as má formações. Nos países desenvolvidos as principais causas são as genéticas. Os países em desenvolvimento têm três vezes mais crianças cegas que os países em desenvolvidos”, aponta.

No caso do Brasil, Lopes explica que a principal causa de cegueira infantil é a má formação, em especial decorrente da rubéola. “É uma doença que pode atacar a mãe grávida. Quanto mais precoce for a doença no período gestacional, piores serão as sequelas. A mãe pode ter tido a doença antes do período de gestação ou ter tomado a vacina antes disso”, detalha. “Também tem a toxoplasmose como causadora de transtornos visuais e do sistema nervoso central, se essa doença estiver em uma fase mais avançada da gravidez. A toxoplasmose é bastante disseminada no nosso meio. Ela não é muito comum na fase adulta durante o período gestacional, mas existem períodos em que a gente vê um maior número de mães acometidas. Ela é uma das grandes causas de abortos também. Quanto mais precoce a doença, maiores os problemas de má formação da criança.”

Questionado se ainda é na idade escolar que os pais descobrem problemas na visão das crianças, Lopes responde que, infelizmente, sim. “Muitos problemas detectados pelos professores seriam identificados anteriormente se exames periódicos preventivos tivessem sido realizados. É como levar sua criança ao pediatra só quando está doente. As crianças devem ser levadas ao médico como serviço de prevenção. Muitas vezes a professora detecta o problema quando o aluno apresenta algum problema de aprendizado ou é feito teste de visão na escola. Só se detecta que a visão de um olho é deficiente. Daí a importância de fazer exames periódicos com oftalmologistas”, reforça.

Folha Arte

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